Teresinha Machado da Silva – Presidente da UPPE-Sindicato
Na rede estadual de ensino do estado do Rio de Janeiro, as aulas tiveram início no último dia 1º. Devido ao agravamento da pandemia e ao aumento da transmissão do vírus, apenas 10% do total de alunos matriculados, aqueles que fazem parte do quadro de vulnerabilidade social, voltariam às atividades presenciais e os demais assistiriam as aulas on-line. No entanto, não foi o que ocorreu.
Mais de 50% dos estudantes ficaram fora das aulas presenciais ou on-line, até a última semana. O estado conta com, aproximadamente, 700 mil alunos matriculados em suas unidades de ensino. Desse total, apenas 331 mil estudantes voltaram a frequentar as aulas presenciais ou baixaram o aplicativo para as aulas remotas, conforme informações da Secretaria Estadual de Educação (SEEDUC). O planejamento dos gestores da pasta era que 642 mil alunos estivessem tendo aulas remotas. Contudo, apenas 260 mil alunos conseguiram baixar o aplicativo necessário para o ensino a distância devido à dificuldade de conexão e à má qualidade da plataforma.
Entre os efeitos da pandemia, pode-se destacar o aumento da desigualdade social devido à exclusão digital. Foi imposta mais uma lacuna aos estudantes de baixa renda, já que para acompanhar as aulas, são necessários equipamentos adequados e acesso à internet. Essa nova realidade agravou ainda mais a desigualdade que já existia das oportunidades de aprendizagem.
Infelizmente, no Brasil, não conseguimos identificar projetos que incluam todos os segmentos populacionais naquilo que é o básico. A educação é um elemento fundamental para as oportunidades de trabalho, para a própria sobrevivência e para o exercício da cidadania, como consta em nossa Constituição.
A falta de conectividade não afeta apenas a aprendizagem dos alunos, já que a convivência social também é um aspecto importante do espaço escolar. Se a pandemia já está sendo uma grande causadora do aumento de sintomas de depressão e ansiedade entre estudantes, os impactos negativos na saúde mental de crianças e adolescentes que estão isolados, sem a possibilidade de se conectar digitalmente com o mundo exterior e com os colegas, provavelmente serão ainda maiores.
A nosso ver, as escolas devem ficar fechadas tendo em vista que o Brasil bateu o recorde de média móvel de mortes, nas ultimas semanas. Sabe-se que há um alto risco de transmissão nas comunidades escolares, principalmente porque as interações envolvem grupos de pessoas, por tempo prolongado e, em geral, em ambientes fechados. Para além disso, vale lembrar que a grande maioria dos alunos, professores e funcionários dependem de transporte coletivo para o trajeto de casa para as escolas, que estão sendo reduzidos gerando aglomerações. Ademais, na maioria das escolas públicas, não foram disponibilizadas condições estruturais e funcionais para um controle sanitário eficiente.
Outro fator que muito nos preocupa, é o conteúdo da circular emitida pela Superintendência de Gestão de Pessoas da Secretaria de Estado de Educação que versa sobre solicitações de Gratificações de Lotação Prioritária (GLPs) com a finalidade de suprir as carências reais e temporárias nas escolas que estão sendo reabertas para atividades presencias. O Brasil vive o seu pior momento, desde o início da pandemia, com o surgimento da nova cepa do vírus Sars-Cov-2. Não vemos uma preocupação efetiva por parte das autoridades com a categoria do magistério fluminense, que coloca os professores na condição de necessidade de aumentar seus vencimentos devido aos sete anos sem reajuste dos baixíssimos salários que recebem, colocando suas vidas em risco, bem como daqueles com quem têm contato.
Embora sempre lutemos por uma educação pública de qualidade para todos, entendemos que o mais importante, nesse momento, é preservar a saúde das pessoas e, sobretudo, salvar vidas.